Deslocamentos urbanos seguros são discutidos enquanto a mulher é estuprada no metro
Tem dia que eu acordo e me sinto como um disco riscado repetindo as mesmas frases ali, girando na vitrola.
Violência contra a mulher é algo bem democrático: não importa a cor, o país nem a camada sócio-econômica nem tampouco o nível de educação da mulher, tem violência para todas! (Ironia)
Em 2017 a ONU já declarou que o lugar mais provável para uma mulher morrer num homicídio é dentro da própria casa. Mas a gente está condicionado a ter medo da rua.
E não é por acaso, na rua também há violência que atinge a mulher.
Quando eu era adolescente, em São Paulo, eu morria de medo de andar sozinha nas ruas. Mesmo com somente 14 ou 15 anos, me lembro claramente dos assédios verbais horríveis que eu sofria. Homens dizendo que iriam me “comer”, me chamando de “gostosa”, algumas amigas minhas relataram serem seguidas por homens insistentemente. Será que eles pensam que é bacana ter medo? Ou que eh sexy? Ou mesmo que é apropriado para um homem sequer cogitar algum tipo de aproximação sexual com garotas menores de idade?
O Instituto Patricia Galvao, uma organização feminista de referência nos campos dos direitos das mulheres e da comunicação que conta com 20 anos de atuação, compartilhou um relatório semana passada onde constataram que “81% das mulheres ja sofreram violencia em seus deslocamentos pelas cidades.”
O transporte público é um ambiente que causa insegurança à mulher brasileira (veja imagem), e ela não está só.
Semana passada um homem de 35 anos, estuprou uma mulher no metrô da Pensilvânia.
Um homem importunou uma mulher e a a assediou sexualmente por varios minutos culminando em estupro, dentro do trem, com vários outros passageiros que simplesmente estavam filmando a cena. Ninguém acionou a polícia, até que um funcionário do transporte público entrou no vagão, viu que algo estava errado. Esta pessoa acionou a polícia que chegou ao local em 3 minutos. A mulher foi levada ao hospital e o agressor, preso e indiciado.
Enquanto isso, há uns dias, na cidade de Montreal na província de Quebec, Canadá, uma jovem de 24 anos foi morta a facadas na rua há algumas quadras da Universidade McGill. Este foi o 26o homicídio do ano na cidade de Montreal e o 17o feminicídio de 2021 na província de Quebec.
Bystander effect
O “efeito espectador” ou “apatia do espectador” é uma teoria da psicologia social que explica que quanto maior o número de testemunhas e espectadores diante de um crime, menor a probabilidade de que alguém deste grupo ajude a vítima. Eh como se cada pessoa coloque esta expectativa no próximo.
Este efeito foi estudado pelos psicólogos John Darley e Bibb Latané em 1968 e agora, na era digital, foi revisto, afinal temos vários outros aspectos como termos todos telefones em nossas mãos, facilitando o acesso a serviços de emergência. Porém, como no revoltante caso da mulher estuprada no metrô da Pensilvânia, as pessoas simplesmente filmaram sem acessar ajuda.
Na minha visão, sofremos de uma “Apatia do espectador” coletiva e internacional, afinal sabemos de todas as formas de violencia de género, mapeamos onde acontecem com maior probabilidade e ainda assim, percebemos que um dia após o outro a violência doméstica e a violência num relacionamento íntimo aumentam enquanto a gente assiste.
Mas até quando seremos somente espectadores?
Por: Stella Furquim