Não existe bom pai e mau marido na mesma pessoa
Sempre repito isso, se o cidadão não é um bom marido consequentemente não é um bom pai.
Ponto.
A base de qualquer relacionamento saudável deve incluir alguns elementos, segundo ótima definição pelo psicólogo alemão Erich Fromm “amor é o desejo de estender seu próprio ser com o propósito de nutrir o crescimento espiritual de outra pessoa bem como o seu próprio”.
Numa família amorosa, como bem descreveu bell hooks em seu livro “All about love”, precisamos encontrar: cuidado, afeição, reconhecimento, respeito, confiança e comprometimento. A ausência de um ou outro elemento acaba ensinando crianças que amor e abuso podem co-existir numa relação de amor, mas na verdade isso só ajuda a perpetuar o ciclo de violência dentro de relacionamentos íntimos.
Partindo deste princípio, sempre questiono, porque tribunais acreditam que pais violentos e/ou pais que usam de controle coercitivo para com os membros da sua própria família são, muitas vezes, considerados aptos a terem livre acesso aos seus filhos. Qual a mensagem que estamos levando a estas crianças? E porque os tribunais se prestam a este papel de serem usados, muitas vezes, como ferramentas de vingança?
Isso me traz à notícia selecionada de hoje.
Antes de mais nada, caro leitor, as crianças foram encontradas e a polícia está tomando as devidas providências para levá-las de volta aos cuidados da mãe.
Aqui um resumão da situação: casal com duas meninas pequenas se divorcia e, por causa de graves situações de violência, mulher e duas filhas são contempladas com medidas protetivas contra o ex-marido e pai.
A mãe refaz sua vida, encontra um novo amor. O pai entra com pedido para reverem as questões de visitas, ele é ouvido e seu pedido acatado. Passa a ter acesso às meninas, um final de semana a cada dois, as menininhas dormem na casa do pai. Por 4 meses, tudo funcionou conforme o acordo.
Na última sexta-feira, um pouco mais de um mês após o novo casamento da mãe das crianças, as mesmas foram levadas para a casa do pai para cumprimento da ordem judicial e ao buscá-las no domingo, também conforme acordo firmado, a casa estava vazia, o telefone do pai desligado. Ele as sequestrou com requinte de crueldade de fazê-lo na semana do dia das mães.
Ontem, quinta-feira, após quase uma semana sem notícias, as crianças foram encontradas (leia a notícia completa no link abaixo).
Eu fico aqui me perguntando: os tribunais serão responsabilizados por “no melhor interesse das crianças” tê-las exposto ao pai violento?
Quando é que as varas de família do mundo afora compreenderão que homens abusivos não tem habilidade e aptidão para proporcionar às crianças, mesmo que biologicamente suas, cuidado, afeição, reconhecimento, respeito, confiança e comprometimento?
Até quando mulheres e crianças serão expostas à violência desta maneira?
Aguardando as respostas sentada.
Stella Furquim
